Que São Paulo está longe de ser um lugar saudável pra se viver, até o mais xiita dos paulistanos sabe. Poluição, engarrafamentos gigantescos, arrastões em restaurantes, prédios e motéis e até seqüestro de cachorro são algumas das mazelas com as quais temos que conviver na cidade mais importante e rica do País. As coisas andam bem tensas por aqui.
Eu curto muito morar em São Paulo. Cheguei faz dois anos e não penso em sair tão cedo. Mas tem coisas que eu não vou compreender nunca. Essa mania que as autoridades paulistas têm de proibir tudo aquilo que não conseguem controlar, por exemplo. Que coisa mais irritante! Apesar de suas inúmeras possibilidades, a impressão que a gente tem é a de que os caras estão se esforçando pra transformar isso aqui na capital mais insossa do Brasil. E estão conseguindo. Se mantiverem o ritmo, dentro de muito pouco tempo São Paulo também irá conquistar o título de maior cidade dormitório do mundo.
Não é de hoje que o festival de proibições em São paulo afeta diretamente o futebol. Em nenhum outro lugar há tantas restrições àqueles que querem simplesmente sair de suas casas e ver um bom jogo de futebol. E o objetivo dessas restrições, que é o de coibir a ação dos vândalos ligados às torcidas organizadas, no entanto, jamais chegou perto de ser alcançado. Volta e meia assistimos a verdadeiras batalhas campais pelas ruas e avenidas paulistanas. E mesmo sabendo que essas batalhas sempre ocorrem com data, hora e local previamente acertados pelos baderneiros, a polícia não consegue evitá-las, por mais incompreensível que isso possa ser. E o que faz ela, então? Baixa mais uma norma qualquer, que tanto pode impedir a entrada de faixas e instrumentos nos estádios, até, como agora, proibir mosaicos e cânticos que façam referência a alguns dos duelos mais emblemáticos entre Santos e Timão, que hoje começam sua briga particular pra ver quem vai à final da Libertadores. Ou seja, por conta da incompetência das autoridades, o torcedor fica impedido de torcer. Pelo visto, a velha tática de jogar o sofá fora é a única que essa gente conhece.
Essa nova proibição é simplesmente inaceitável. Trata-se de uma atitude que beira a surrealidade. Imaginar que a torcida de um time não pode ir pro campo pra xingar e sacanear a do outro time é o tipo de coisa que não entra na cabeça de ninguém. O futebol vive da rivalidade, se alimenta dela. Sem isso, ele não seria nunca o esporte mais popular e apaixonante do planeta. Não fosse pela rivalidade, o futebol seria tão “emocionante” quanto a natação, o remo ou o tiro aos pratos. Com todo respeito a essas e outras modalidades, nenhuma delas se compara ao bom e velho futebol. Só a bola desperta tanta paixão e tirar do torcedor o prazer de zoar e ser zoado é, acima de tudo, uma tremenda sacanagem.
Infelizmente, a norma já foi baixada e quem for à Vila Belmiro hoje à noite terá que conviver com mais essa. Vamos ver quanto tempo até surgirem com outra dessas idéias “geniais”. Quem sabe não será a proibição de gritar gol, dessa vez? Eu não duvidaria. Quando se trata de autoridade paulista, nada do que é estúpido nos parece absurdo.
Abraços,
Tatu