Não é só Corinthians x Santos. É o maior jogo entre os dois alvinegros em toda a história do clássico. Maior do que qualquer um dos muitos vencidos pelo Peixe nos tempos do Pelé, talvez o maior responsável pelos 23 anos do jejum corintiano. Maior até do que aquele de 2002, que consagrou as pedaladas do Robinho e jogou o nome do Rogério na lama dos humilhados pela genialidade de um moleque que apenas começava a trilhar seu caminho no futebol. Dessa vez, porém, a vantagem está do outro lado. É do Corinthians, com sua torcida infernal e defesa praticamente impenetrável, que está o favoritismo, dessa vez. Mas como falar em favoritismo, quando se tem um demônio de cabelo esquisito e talento absurdo pela frente? Sim, hoje, mais do que nunca, o Santos vai precisar que Neymar seja o melhor Neymar possível. Se voltar a se apagar, como foi na partida anterior, a tarefa do alvinegro da praia dificilmente será cumprida.
Escrevi sobre isso na semana passada e repito, agora: mesmo que não vá à final, mesmo que não seja campeão, o Corinthians de hoje é o que esteve mais perto e mais pronto pra ganhar a Libertadores. Não é melhor do que aquele time derrotado pelo Palmeiras nos pênaltis em dois anos seguidos – 99 e 2000 -, mas tem algo muito especial nele. Ao contrário do que acontecia há até bem pouco tempo, esse é um Corinthians confiante, de auto-estima elevada, que ainda se orgulha de ser maloqueiro, mas já não vê mais tanta graça assim em ser sofredor. A onda é ser vencedor, é estar por cima da carne seca. E, pra chegar lá, a Fiel conta com um time que sabe muito bem o que quer e o que fazer pra conseguir. Joga pra não perder, pra não levar gols, sem vergonha de botar o regulamento debaixo do sovaco e levá-lo pra dentro de campo. Ao mesmo tempo, entretanto, é um curisco na hora do contra-ataque ou quando transforma o Paulinho – sim, Paulinho! – na sua grande arma ofensiva. Por mais que os adversários saibam que em algum momento ele vai se lançar e tentar alguma coisa, quase sempre acha uma brechinha pra aparecer e fazer a diferença. O Corinthians de Tite, Cássio, Paulinho, Ralf, Danilo e cia., antes de tudo, é um time consciente, competente e difícil à beça de ser batido.
No Santos a história é outra. Lá não é no conjunto que está a maior força da equipe. Tudo depende muito do Garoto Cacatua. Muricy não criou um esquema que favoreça o futebol do moleque, mas sim um que precisa inteiramente dele pra funcionar. E ele não tem funcionado muito bem nas últimas partidas. Produziu pouco nos dois jogos contra o Vélez e no de semana passada. Alguns argumentam que está cansado. Joga quase todas as partidas do time na temporada, vai pra Seleção, treina e joga lá, viaja, cumpre com as obrigações com seus “496″ patrocinadores… enfim, o cara não pára. É uma rotina e tanto e todos sabemos que o descanso é indispensável pra que um jogador, por mais abençoado que seja pela natureza, possa render bem. É um argumento mais do que aceitável. Mesmo assim, eu acho que o maior problema tem sido a forma de atuar, tanto do time quanto dele. Ficou previsível. O Vélez mostrou como faz e o Corintnhians só fez repetir. Deu certo. Hoje, se não houver uma mudança nessa maneira de atuar, se novamente o Santos ficar esperando que o Neymar resolva tudo numa jogada individual espetacular, as chances de o escrete da Fazendinha se dar bem de novo são enormes. Agora é Neymar quem precisa do Muricy. Ele e todo o time precisam saber que têm um grande treinador.
Será um jogo inesquecível, épico, antológico e histórico. Não há como uma partida que envolve tanta coisa não ser tudo isso. Ao final, apenas um vai sorrir, porque é essa a graça do negócio. Mas isso é problema de santistas, corintianos e anti-corintianos, que certamente formam um contingente ainda maior que os das duas torcidas juntas. Já os que estão nessa apenas como meros admiradores desse tal de futebol só vão ter o que comemorar. A noite promete.
Abraços,
Tatu